Prof. Marcos Rubens Ferreira***
Surtos de contaminação/infecção COVID-19 explodindo em Escolas, CEI’s e Serviços da Atenção Básica em Saúde
De meados do mês de maio/2022 até esta semana a doença Covid-19, oriunda da Infecção por Coronavírus de localização não especificada, está apresentando novo fenômeno nos Serviços de Educação e Saúde: expressiva quantidade de casos COVID-19 ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Trabalhadores Profissionais da Educação, Estudantes, Crianças da Educação Infantil, assim como os Familiares destes e extensivamente em Profissionais da Saúde, repercutindo no Fluxo/Manejo dos Usuários SUS.
Tais casos de infecção COVID-19 ou SRAG estão aumentando por todo Município de São Paulo e na Região Metropolitana da Capital Paulistana, são constatados empiricamente por qualquer pessoa que entre na recepção dos Estabelecimentos de Saúde para acolhimento -Unidade Básica de Saúde (UBS), Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Pronto Socorro (PS) Municipal ou Hospitalar-; questão noticiada no último domingo, 06 de junho, o programa Fantástico[1] constatou aumento de internações no Hospital Municipal da Vila Brasilândia – Dr. Adib Jatene, que atualmente é o único Hospital exclusivamente para casos de COVID-19 e SRAG. Professores que circulam nas adjacências de tal Hospital testemunham, empiricamente, a intensa circulação de Ambulâncias e, por vezes, veículos Funerários nesta área da cidade que faz divisa com Região Metropolitana nas Zona Norte e Oeste.
Em muitas Escolas e Centros de Educação Infantil (CEI), Estudantes, Professores, Funcionários Administrativos e de Limpeza comunicam contaminação/infecção, atestados e licença do Trabalho/Serviço, mas como existem casos assintomáticos a variedade de possibilidades para outros se infectarem multiplica-se geométrica e imperceptivelmente, questão nem sempre avaliada pela gestão pública, e quando mencionada aparenta ser irrelevante ante a importância de ‘não criar mais problemas para desgastar-se na resolução’ ou seria uma forma de esconder tal realidade.
Enfim, tal realidade repercute no fluxo/manejo dos doentes, tanto no acolhimento, quanto na conduta de Profissionais da Rede de Atenção Básica SUS, por seguirem "Protocolo de atendimento único para atuação na identificação, notificação e manejo oportuno de casos suspeitos de infecção", rígidos e sem flexibilização[2] ante as mais variadas queixas de mal estar dos pacientes, que se veem obrigados a peregrinarem por vários serviços de saúde, até conseguirem atendimento digno com uma escuta qualificada e resolutiva (recordando crises sanitárias nas décadas de 1970 e 1980).
Ante tal estado de coisas a conferência “La crisis de la medicina o la crisis de la antimedicina?” (crise da medicina ou crise da antimedicina), do Filósofo Michel Foucault, em outubro de 1974, no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual UERJ, contribui para entender que
“a prática médica é sempre social e não privada [...] a medicina faz parte de um sistema histórico; que ela não é uma ciência pura; que faz parte de um sistema econômico e de um sistema poder; e que é necessário trazer à luz os vínculos entre a medicina, a economia, o poder e a sociedade para determinar em que medida é possível retificar ou aplicar o modelo [da “decolagem” e desenvolvimento econômico da Europa a partir dos séculos XVII e XVIII até o século XX podia ser adaptado plenamente em sociedades ainda não industrializadas].
Estamos em ano atípico, após dois anos da declaração de Pandemia[3], com um calendário civil bem delimitado para Ações de Políticas Públicas devido eleições majoritárias, em outubro, por isso compartilhamos uma proposta de Saúde Pública, elaborada por Entidade da Sociedade Civil Organizada[4] e enviada a representantes eleitos no Poder Legislativo de São Paulo:
[...] estamos em uma fase que é urgente implementar/executar um programa sumário de testagem em massa e acesso ao auto teste gratuito com App para Celular e link para computador onde o próprio Usuário SUS/Cidadão/Contribuinte possam realizar a Notificação ao SUS Estadual/Municipal com indicação do Serviço UBS que utiliza. ( trecho do E-mail enviado para os deputados estaduais Carlos Giannazi – PSOL/SP, Paulo Fiorillo – PT/SP, e os vereadores Celso Giannazi – PSOL/SP e Eduardo Suplicy – PT/SP).
No início de 2022 a testagem rápida para detecção do antígeno COVID-19 ficou restrita para parcelas específicas da população, diante do quadro de novo vírus de Gripe com sintomas análogos à COVID-19 ou SRAG, e, sem processo da distribuição de vacinas para imunização da população, já neste mês de junho com as condições climáticas mudando do outono para inverno e o atual surto acontecendo, a proposta acima aparenta inviabilidade técnica mas os lemas/divisas do Estado Pro Brasilia fiat eximia (Pelo Brasil façam-se grandes coisas) e do Município Non ducor, duco (Não conduzido, conduzo), podem servir a mais um incremento de Política Pública Preventiva, tão valorizada nos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal de 1988 - Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
*Professor Marcos Rubens Ferreira: docente de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Diretor Adjunto da APROFFESP; Conselheiro Gestor do Pronto Socorro Municipal 21 de junho -Freguesia do Ó-; Integrante do Corpo Técnico de Professores na Pastoral da Saúde Regional CNBB Sul1.
[1]Disponível em: <https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/06/05/vacina-de-spray-nasal-e-o-caminho-para-o-fim-da-pandemia-de-covid-apontam-especialistas.ghtml>. Acesso em: 08/06/2022.
[2]“Constatam-se profundas amarras do saber médico ao modelo e às normas da ciência moderna, que, ao dissociar razão/sujeito, produz uma ciência que centra seu objeto de estudo no corpo anatomopatológico, caracterizando-se, desta forma, o aprisionamento da ciência médica ao paradigma da simplificação [em oposição ao da complexidade]” (SÁ, M. R. C. A Modernidade Desencantada, a Crise da Medicina e o Imaginário Institucional in Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, out./dez. 2000, p. 46-55).
[3]Pandemia decretada pelo OMS em 11/03/2020.
[4]Polo Social Cívico Brasilândia, entidade associativa constituída desde 23/08/2008, com finalidade de apresentar questões envolvendo território local e adjacências, disponibilizando colaboração resolutiva a partir do somatório de experiências com as realidades adjacentes, locais e regionais.
OBS. Ler, Comentar e Compartilhar.
O professor Marcos traz uma grave informação acompanhada de importante reflexão, que nos obriga a refletir também.
País de muitas e necessárias lutas.
Entre tantas, devemos mesmo priorizar os temas que implicam diretamente na manutenção da vida, que coisa!
Parece uma estratégia manter a população preocupada com a .manutenção, porque enquanto isso não se preocupa com a qualidade de vida.
Defensores do capitalismo dirão: mais investimentos aqui, menos ali... sugerindo medidas capitalistas para resolver problemas típicos do capitalismo. Entretanto, o problema é o capitalismo e, dessa forma, a solução oferecida para o problema é também um grande problema.