Lúcia Peixoto***
Eu nesta minha mania de poetizar Quis hoje olhar para a nossa história Compor uns versinhos rimados Fiquei a imaginar quão belas foram as histórias Vividas por essas terras antes da invasão europeia Guardadas pelas matas fechadas Banhadas nas nascente dos rios Tendo como plateia o sol escaldante Outras vezes as estrelas e a lua! Imagino Pajés cientistas Fazendo remédio de mato Cacique organizando seu povo Guerreiros se pintando pra caça e pra guerra Iracemas aos milhares Tão belas e livres como as jaguar e as cotovias Evas antes da maça virar falsa ciência! E a inocência virar pecado Tanto paradoxo que mal cabem num só poema Dividirei então a minha prosa em duas partes Transcrevendo um dos dos primeiros documentos (Carta de Caminha) Sobre essa terra chamada primeiro de Ilha Depois de Santa Cruz Por fim Brasil! Depois de escrita a brilhante Carta Sob a Égide da Cruz Empunhada por Bandeirantes Tudo por aqui foi profanado O Guerreiro perseguido e aprisionado A índia violada no seu corpo e na sua´lma As florestas devastadas para roubar Pau Brasil E colorir (da cor de sangue) as roupas do mundo "civilizado". Vermelho também era o sangue que tingiu os navios negreiros Homens, mulheres e crianças sequestrados e aqui escravizados Sonhos e vidas usurpadas Tudo em nome da "Ordem e do Progresso" Escrito bem no centro da bandeira da nossa pátria No lugar do nativo livre o africano escravo As florestas deram lugar ao plantio do café e da cana Do tronco se ouviu mais que o gemido A voz do chicote foi respondida com o som do atabaque E nos terreiros se viu orixás dançar E muito capitão do mato na capoeira tombar Em Palmares e por todo o território Se ergueu Quilombos A resistência forçou a princesa a assinar a lei Áurea (ainda que fosse uma farsa) Precedeu a Independência (que ao povo não libertou) E o Brasil virou República Escreveu uma Carta Magna A democracia foi exaltada Depois pelos Militares amordaçada O povo pegou em armas Mais sangue inocente foi derramado Vidas ceifadas
Mas as fardas recuaram Teve Assembleia Constituinte E muitos direitos foram assegurados Partidos Políticos foram fundados A sociedade se organizou em entidades e sindicatos O Brasil foi chamado de emergente Pagou a Dívida Externa Fez programas para erradicar a miséria Investiu em educação (Não o bastante é verdade) Ampliou vagas nas Universidades Parecia caminhar para o futuro Foi quando apareceu Um Pato Inflável Grande gordo alimentado pelos ricos empresários E o kuá, kuá, kuá capitalista subjugou a consciência de classe Lá se foi a democracia Tomaram o poder Não por força de armas bélicas Pela mais perigosa de todas as armas A ideologia excludente e reacionária. Com o lema "uma ponte para o futuro" Vimos (não caladas) Nossa história sendo arbitrariamente Reescrita ao contrário!
Pelas redes sociais
Mentiras são disseminadas
Exaltando falsamente,
Amor à Pátria, à Família e a Deus
Brandaram falsos pastores
Guiando rebanho de bestas
Um tal Messias foi eleito
… … …
Deixo aqui um hiato
O mundo virou de pernas para o alto
Com pandemia e guerra
Ameça de calar a democracia
Fardas marchando em motociadas
(Dizem rumo a reeleição ao planalto)
Ex-presidente injustamente condenado
Preso, inocentado, solto e candidato
(Lidera as pesquisas)
Eu historiadora, filosofo poetizando
Dias melhores virão
Ei de encontrar meu trevo de quatro folhas!
Lúcia Peixoto - Professora de Filosofia na Rede pública Estadual, Ex-presidenta da Aproffesp,Poeta, Artesã, Bacharel em Ciências da Religião, Licenciada e Pós Graduada em Filosofia, Cursando Formação Pedagógica em História.
Texto maravilhoso!!