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OSCAR: ENTRE DITADURAS E GENOCÍDIOS

Foto do escritor: Aldo SantosAldo Santos

Carlos Pronzato***


A premiação do Oscar 2025 mais uma vez se tornou o centro eletromagnético mundial. Televisores, computadores e celulares foram durante algumas horas a meca do interesse de grande parte da população do planeta. A indústria cinematográfica norte americana distribuiu seus prêmios, como o faz há 97 anos e apesar de não ser esta uma exceção quanto ao direcionamento político dos galardões entregues, duas estatuetas levaram ao mundo uma baforada de alento num contexto de desumanidade crescente com a ascensão galopante da ultradireita no orbe.


Como dado recente (23 de fevereiro) e eloquente deste preocupante momento, além do retorno de Donald Trump à Casa Branca, a legenda de direita radical Alternativa para Alemanha (AfD) obteve o segundo lugar, com uma votação recorde de 20.8 %. O primeiro lugar correspondeu à centro-direita da União Democrática Cristã com 28.6 %. E não estamos a falar de qualquer país, fincamos a nossa preocupação no ressurgimento - e estímulo para outros países - do neonazismo no coração do horror da Europa Ocidental na Segunda Guerra Mundial.


O filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles e o documentário No Other Land (Sem Chão) dirigido pelos estreantes Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, ganharam nas categorias Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário, respectivamente. O filme brasileiro remete à longa noite do horror dos 21 anos de ditadura empresarial militar (1964 - 1985) centrando o seu foco narrativo em 1970/71, numa adaptação homônima do livro de Marcelo Rubens Paiva, filho do engenheiro civil e deputado do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), torturado e desaparecido, Rubens Beyrodt Paiva (1929 -1971).


Já o documentário No Other Land (Sem Chão) feito por um coletivo palestino-israelense mostra a destruição de Masafer Yatta, o deslocamento e a desapropriação territorial dos palestinos, retratando a destruição sistemática na Cisjordânia ocupada por soldados israelenses e a aliança que se desenvolve entre o ativista palestino Basel e o jornalista israelense Yuval. Segundo o crítico Kevin Rick, do site Plano Critico, esta obra mostra “A batalha de habitantes que há décadas sofrem com a expulsão e a demolição de suas casas através de manobras militares de Israel, todas sempre protegidas pela mídia numa continua violação dos direitos humanos, discriminação e violência genocida”.


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas - apesar de sediada num país inteiramente responsável pelo apoio à ditaduras, extermínio de populações e degradação da natureza em todos os continentes - surpreende acertando em cheio ao outorgar visibilidade mundial a dois filmes que dialogam com a resistência e a esperança no ser humano.


Carlos Pronzato

Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor

Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)

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