Vilma Amaro ***
A informação de que a direção da Escola Estadual Jornalista Vladimir Herzog aderiu ao modelo de escola cívico -militar que o governo de Tarcísio de Freitas está tentando impor a toda comunidade escolar de forma arbitrária, deixou indignados jornalistas, familiares do Vlado, entidades de direitos humanos, intelectuais e professores. Para a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, a anunciada inclusão dessa escola no "Programa escola cívico-militar (lei complementar 1398/2024) é uma verdadeira afronta à memória desse jornalista bem como uma agressão a seus familiares, amigos e à categoria profissional dos jornalistas que este Sindicato representa. Lembra a diretoria do Sindicato que esse modelo foi aprovado às pressas pela Assembleia Legislativa de São Paulo.
Professores e estudantes que exigiam o debate democrático sobre essas escolas foram agredidos por policiais dentro da Alesp. Além disso, o Programa Escola Civil Militar é inconstitucional como acaba de apontar a Advocacia Geral da União, porque delega à Policia Militar atribuições educativas que lhe são indevidas e incompatíveis. E estes policiais que atuarão nas escolas vão receber um provento bem maior do que o da categoria que se dedica com amor e profissionalismo à tarefa de educar crianças e adolescentes.
A decisão do governo paulista é autoritária e visa controlar as comunidades mais vulneráveis e é pouco clara quando se refere à coordenação do área de competência da gestão do Programa.
Para Rose Nogueira, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, a implantação dessas escolas é uma agressão à memória de Vladimir Herzog assassinado pela ditadura militar e, por extensão, a todos os que sofreram as agruras da prisão política por desejar outro modelo para o país que contemplasse uma sociedade mais justa e democrática.
Quando os jornalistas souberam do assassinato de Vladimir Herzog se reuniram e pagaram um anúncio exigindo investigação sobre a morte de Vlado; centenas de jornalistas, inclusive eu, assinaram a petição, que foi monitorada pelos órgãos de segurança da época. Nossos nomes constam em uma placa colocada na Praça Vladimir Herzog , ao lado da Câmara Municipal de São Paulo.
O professor Aldo Santos em live recente, demonstrou de forma brilhante que é necessário criar outro modelo de educação no país, que assegure valores visando à uma sociedade igualitária.
Consideramos que o professor também precisa ter assegurado o livre exercício de sua atividade, sem o terror de militares dentro da escola, situação que já se viu no passado durante a ditadura. Mas a ditadura - que durou 21 anos - acabou. E conquistamos, a duras penas, a democracia. E não podemos admitir que essa democracia comece a ser violada por ideais fascistas, os mesmos que estão matando milhares de palestinos, numa ação totalmente desumana e cruel, como lembrou na live o professor Aldo.
Essa ideologia não queremos nas escolas paulistas. E não aceitamos que a memória do jornalista Vladimir Herzog seja usada para propósito de dominar corações e mentes de nossa juventude, em especial de regiões mais vulneráveis.
Não à militarização de nossas escolas!
Vilma Amaro
diretora da regional ABCD do Sindicato dos Jornalistas.
É de fato inaceitável a criação de escolas "cívico-militares" que atentam contra a LDB e a Constituição. Vamos lutar contra essa aberração !