Joaquim de Gino Caroba Netto dos Santos***
Sou de São João e não creio em visagem, superstição! Não!
Mas,
Nossa mãe sempre a mim contava:
"Era noite, eu e Pedro íamos a cavalo (eu na garupa) de São João pra Vaca Morta. A quadra da lua era cheia. Ali, bem ali, na estrada, após a Fazenda Santiago, próximo de Chico Anjo, sentada no meio da estrada uma mulher, toda de branco, o cavalo refugou num primeiro momento, mas depois passou bem ao lado desta mulher. Os meus pés (estava sentada de lado na garupa) passou por cima da cabeça dela e ela sentada estava, sentada ficou..."!!
Chiquinho do Zé do Chico dizia sem amarelar:
"Uma mulona- sem- cabeça atravessa pra lá e pra cá a noite a estrada ali perto de Aristides..."
Eu, cético! indagava-o: Como esta mula-sem-cabeça andava? E ele dizia: Andava sim! Eu vi e não foi uma vez só...
Ou do'!!!
Num mundo com menos luzes, penumbra, as fantasias, as imaginações simplesmente fluiam... E como fluiam!!
Quando era criança pequena de mim, as minhas irmãs, não tiveram pena!!
Bela, Maria... diziam:
"Olhe, a noite, o "trem" vem... Bate à porta e diz: Cão civirico! Cão civirico!!..."
Mais!!
Às vezes colocavam a noite umas roupas no forno de assar biscoitos... E falavam: Olhem lá! Estão vendo? O "trem"...
Sem falar daquelas cantigas de ninar altamente discriminatórias:
"Boi, boi, boi da cara preta, pegue esta criança que tem medo de careta!.."
Este "boi" tinha de ter a cara preta? Heim!?
Mais recente, trabalhando em Vargem Grande do Rio Pardo, algumas pessoas de lá a mim diziam com uma tranquilidade preocupante:
"Nunca vá ao SJP a noite..."
- Por quê? Indagava-os!
- Por que, sabe aquela moitinha de mato entre aqui e a Boa Sorte? Ali, a noite, de dentro da mata sai um casalzinho afoito e estaciona bem ao lado da estrada...
- É mesmo?
- Com certeza!!
- Um dia, aliás numa noite destas, colocarei esta história a limpo! Ah! Colocarei!! Pago pra ver!!!
Chegando na ambulância do SAMU de BH, às 2 hs da madrugada, disse ao motorista: Vou pra casa, em São João e ele a mim disse na bucha:
- E a moitinha!? O senhor não tem medo?
- Não!! Não!! Sou absolutamente cético em relação a estes "mistérios da meia-noite"!! Irei sim!! Peguei o "tomate" (o carro de mãe), naquela madrugada e parti. Chegando à moitinha de mato falada, parei o carro. Fui em direção ao interior da mata. Ouvia barulhos sim, mas de répteis, anfíbios, aves, insetos de hábitos noturnos!! Só isso e nada mais!! A mim, ali, solitário, perguntava: Onde está o tal casalzinho afoito? Onde? Hum!! Hum!! Conversas pra boi dormir!! Tenho medo sim de seres humanos que optaram por causar danos a outros seres humanos!! De seres humanos que transtornados por drogas psicotrópicas perdem a sensibilidade, a fraternidade na moitinha em questão ou na cidade!! E lembrei, naquela hora, que outrora... Outrora, meu avô Joaquim de Gino, saia do Areão no seu burrão, a noite, e ia prosear à beça sem pressa com Tone Manco em Vargem Grande!! Sem medo de nada!! Sem medo de ser feliz!! Os animais de outras espécies, de hábitos noturnos, são dóceis, não atacam, apenas se defendem!! Parece uma bobagem o que, neste epílogo, direi: Este mundo está por demais iluminado!! Na penumbra, a nossa imaginação voa à velocidade da luz e o infinito é o limite!! Cruz!! Na infância é mesmo tempos de fantasias!! E fantasia é fantasia aí é aqui na Bahia!! Daqui, neste momento, direi: obrigado Chiquinho do Zé do Chico, obrigado mãe, obrigado àquelas pessoas de Vargem Grande que estimularam as minhas fantasias... !! Que bom!! Agora mesmo, estou vendo bem aqui do meu lado todos os meus irmãos/irmãs, todos os meus sobrinhos/as!! E olhem!! Não se trata de fantasia, visagem!! É real!! Realmente!! Enxergo melhor com as janelas dos meus olhos fechadas!!
Cá pra nós: Estes "mistérios de meia-noite"!!!! São e continuaram mistérios!! E que assim sejam!! Sempre!!
Joaquim de Gino Caroba Netto dos Santos - Médico, Filósofo e Advogado.
Comentarios