top of page
Foto do escritorAldo Santos

É Imprescindível Acordar!


Andréa Silva Lacerda*


Quando li o “Conto da Aia”, não me vi dentro dele. Sua atmosfera densa causou um impacto difícil de ser expressado dentro do vocabulário a mim acessível. Leitura avassaladora, eu diria, sob uma imensidão de aspectos que novamente fogem ao contexto do meu repertório, agora. Dei vida às personagens e acompanhei cada trajetória, assistindo de perto, mas longe o suficiente para não me inserir no contexto da barbárie tão vividamente expressa pelo brilhantismo literário da autora Margaret Atwood.


Aprofundei amplamente, como expectadora no horror narrado em detalhes, amplamente explorados, da psiquê de cada envolvido na intrínseca trama, construída, de um lado sobre o alicerce do fanatismo religioso, ideologia de caráter fascista, culto à personalidade, nacionalismo exacerbado, homofobia, preconceito, ganância, racismo, ausência de empatia, enfim, misoginia, machismo, hipocrisia, ódio e toda sorte de outros fatores inerentes ao ser “humano” na avidez pela supremacia em detrimento ao próximo.


Do lado em desequilíbrio na balança; na gangorra da existência, a necessidade de sobrevivência, medo, dor, sofrimento, escravidão, morte e desespero para sobreviver ao horror imperativo.


Quando concluí a leitura, um compilado de alívio e medo pairava denso como uma nuvem que antecede as tempestades. Alívio, por ser um romance fictício, distante da realidade de um país “pacífico” como o Brasil, que caminhava rumo a um futuro mais humanitário, numa jovem, porém promissora democracia, construída pela luta de inumeráveis brasileiras e brasileiros, a começar pelos legítimos donos desse pedaço de chão, os povos originários, que desde a invasão e colonização portuguesa, lutaram pela liberdade, justiça social, direitos humanos, igualdade em sentido amplo.


Hoje, primeiro de janeiro de 2025, anos após a leitura, vejo o “Conto da Aia” caminhando lado a lado com a grande maioria do povo brasileiro, submetido diariamente ao ódio que se instalou nas relações, quaisquer que sejam, ditadas pelo obscurantismo construído por um sórdido “mito”, que deu voz e vez a monstros ensandecidos que se aquartelavam em armários.


Para além, o mundo se convulsiona em guerras insanas. Umas lembradas pela grande mídia partidária do extremismo. Outras invisíveis, como a que acontece em Moçambique, na explorada e esquecida África. Esquecida até, pasmem, pelos progressistas e suas mídias, “acolhedoras”.


Tempos medievos, que enfrentaremos com amor ao próximo, e sobretudo coragem para lutar sob a bandeira da Paz, para nos consolidarmos como irmãos e não como feras bestiais.


Andréa Silva Lacerda - Professora

143 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 Comment


naoperes
naoperes
Jan 06

Lamentavelmente, o que parecia ficção algumas décadas atrás, hoje é uma triste realidade.

Like
bottom of page