
Alberto Souza***
Em regra, não faço comparações entre as diferentes condições históricas, variados acontecimentos. Mas quero dizer um pouco sobre o que ocorreu com Aldo e Camila , por terem estado ao lado de gente do povo na sua luta por moradia, pelo próprio direito à vida.
A condenação de ambos a perderem direitos políticos - como ainda mais, mesmo a não poderem ter ideias de defesa de uma sociedade mais humana que a atual, e por último, a ficarem sem salários e casa para continuarem existindo - é sintoma claro de que a ditadura civil - militar, desaparecida há quarenta anos atrás, ainda funciona como um espectro, em ações contra as lutas do povo pelo direito de ser livre e de viver.
A não ser por ilusão dos explorados e exploradas, não se pode deixar de ver que a classe dominante do trágico período de 21 anos -de prisões, torturas e mortes de quem desejava liberdade e vida - é a mesma dos dias atuais, com toda a sua lógica: usar o Estado, seu principal instrumento de poder, para atacar direitos do povo.
Para isso, seu vale-tudo: polícia contra povo, contra o proletariado negro, em especial; contra quem acha não ser crime obter condições de existir, de ter comida, moradia, escola, saúde, lazer, família...
Para isso , a mobilização dos seus agentes de toga , armados de falsas hermenêuticas, de insolência, de preconceitos; e de uma ideologia mascarada de democrática, imparcial, que, na verdade, é expressão de proteção da última das escravidões.
É esta lógica que explica a agressão, em nome da lei, contra estes dois lutadores de nosso povo, por estarem ao lado de tanta gente em luta para tirar de uma multinacional um latifúndio urbano que deveria não existir, porque a terra é para quem precisa dela para a vida.
Como durante a ditadura, imposta ao nosso povo em 64, que condenava qualquer luta do nosso povo, tratando-a como ato criminoso, usando, em particular, seus fardados contra lutadoras e lutadores, o Poder Judiciário, ao condenar tais combatentes do povo, sequer prima pela simples obediência ás próprias leis burguesas, ao seu Estado de Direito.
A denúncia desta condenação, semelhante ao law-fare aplicado por Moro contra Lula, para tirá-lo da vida de nosso povo, de suas lutas, deve chegar a meios de comunicação alternativos; a sindicatos e outras organizações populares.
Deve chegar ao gabinete de todos os deputados e deputadas estaduais e federais; e a Câmaras Municipais.
Por fim, como fizeram os e as que lutaram contra a ditadura passada; os lutadores e lutadoras de hoje, todos os democratas, têm de reagir contra uma prática semelhante ao que fazia o regime derrotado por nosso povo em1985.
Alberto Souza - Ex-vereador em sbcampo, ativista dos Direitos Humanos e Escritor.
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