Joaquim Netto*...
Casa lar!
A luta por moradia ainda hoje em dia...
É devera: quem casa quer mesmo uma casa, uma casa lar nem que seja lá em qualquer lugar: um cantinho feliz!!
Sempre foi assim, seu Joaquim?
- Sempre: tanto outrora como agora.
- Nada se modificou?
- Modificou sim. Há um dinamismo inerente à vida. As casas de outrora, as preocupações de outrora (pretéritas) eram diferentes de agora (presente) e no futuro deste presente...
Ainda ontem (década de 50 do século XX) aqui no sertão do Nordeste brasileiro, nubentes almejavam, claro! a uma casa lar ou simplesmente um lar, doce lar...
Num pedacinho de terra qualquer que adquiriam para desta terra (lavoura) se sustentarem, construíam o ninho. Uma casa de duas águas com sala, varanda, três quartos (dormitórios): um para o casal, um para o futuro herdeiro e um para, eventualmente, hóspede. Uma cozinha com peitoril e pronto: estava pronta a casa lar.
- E os banheiros?
- Banheiros? Para quê? Não havia o hábito de fazer as necessidades fisiológicas no interior da casa, mas na parte externa. Vida de gado mesmo!! Bebia a água que a vaca bebia, defecava como a vaca, no mato...Energia somente a energia solar usada por todos os seres vivos. Havia pedreiros, carpinteiros... Não havia, por conseguinte, encanadores, eletricistas...
- Havia preocupações com móveis: geladeira, fogão, cama, mesa, prateleiras...
- Não!! Um fogão era feito de barro no canto da cozinha no chão. O combustível: lenha. Daí: fogão de lenha. Cozinhava tão somente a quantidade para cada refeição: almoço/jantar. Não havia por que se preocupar com geladeira. Não armazenava alimentos cozidos. Havia a "carne do sol" que aguentava por alguns dias. As camas eram de madeira: vara ou mesmo madeira trabalhada. Os colchões feitos de saco de estopa enchido com palhas de banana...As panelas, os caldeirões, os pratos, as botijas eram de barro. Utensílios domésticos tudo muito simples como as pessoas (nubentes) eram.
Lar é sempre um lar, doce lar seja onde era, onde é, como for. Neste ponto a Casa Grande (mansões hoje) não se diferiam das senzalas (favelas) hoje. Quem faz da casa (seja ela qual for) um lar são os seus habitantes! Todo lar faz parte de uma casa, mas nem toda casa se constitui um lar. Na língua portuguesa não há muita distinção entre casa e lar. No inglês casa é "house" e lar é "home"!!
"No rancho fundo bem pra lá do fim do mundo..."! E aí, meu caro Raimundo? Das janelas destes teus olhos, como tu estás vendo o mundo?
- Mundo, imundo um tanto quanto imundo!!...
Moradia, Joaquim...Casa lar, Joaquim, como aqui agora observamos, é mesmo algo sagrado para nossa espécie. Com tanta terra neste Brasil e tanta gente sem sequer um pedacinho para construir sua casa lar para lá viver e conviver...
Com muita peleja, muita labuta os marginalizados neste processo conseguiu colocar na Constituição Federal da República Federativa do Brasil:
"Moradia é direito do cidadão e dever do Estado"!!
O mesmo ocorre com saúde, educação...
Fazem parte do Direito à VIDA de todo e qualquer cidadão ou cidadã.
Mesmo assim, seu Joaquim...
Mesmo assim, com todos estes avanços, meu caro Raimundo...
O Estado brasileiro não cumpre efetivamente o que estabeleceu em sua lei maior. Não respeita os territórios indígenas, há muitos sem terra, sem teto perambulando por aí...
São por estas e outras que a peleja por moradia, por um pedacinho de terra pra plantar e pra colher precisam e devem continuar!!
E, de preferência moradia digna, "pro quintal uma janela pra ver o sol nascer..."!! Somos, afinal, todos "filhos e filhas de Deus"!! Ou não?
Viva o MST, a CPT, o MTST!!!
Viva!!
Joaquim Netto - Advogado, Filósofo e Médico.
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