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A Dualidade da Educação Brasileira: Liberdade para os Ricos, Obediência para os Pobres

Foto do escritor: Aldo SantosAldo Santos

Atualizado: há 1 dia


Professor Fagundes***



A respeito da implantação das escolas militares no estado de São Paulo e pelo Brasil afora, vejo como acertadas as palavras de Darcy Ribeiro quando ele afirmou que "A crise da educação brasileira não é crise; é projeto". Essa frase, tão contundente, revela uma triste realidade: a educação no Brasil não é negligenciada por acaso, mas sim por uma escolha política e social que perpetua desigualdades.

Enquanto os filhos das elites estudam em escolas que adotam métodos pedagógicos cientificamente reconhecidos e humanistas — como os de Maria Montessori, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Rudolf Steiner (Waldorf) e Paulo Freire —, os filhos das classes mais pobres são direcionados para escolas com métodos militares. Essa dualidade não é mera coincidência, mas parte de um projeto que reforça a divisão de classes.

Nas escolas das elites, os alunos são incentivados a desenvolver a criatividade, a liberdade de pensamento, o senso crítico, a subjetividade, o raciocínio lógico e a liderança. Essas habilidades são essenciais para formar indivíduos autônomos, capazes de questionar, inovar e assumir posições de destaque na sociedade. Já nas escolas militares, os alunos são submetidos a um regime de hierarquia rígida, onde aprendem, acima de tudo, a obedecer e a se calar. A liberdade de expressão é limitada: vestimentas, cortes de cabelo, acessórios e até mesmo a forma de se comunicar são controlados.

Essa diferença não é casual. Ela reflete um sistema que busca manter os ricos em posições de poder e os pobres em papéis subalternos. Enquanto os primeiros são preparados para liderar e tomar decisões, os segundos são treinados para seguir ordens e se conformar com sua condição. É uma estratégia que perpetua a desigualdade social e impede a mobilidade ascendente.

Nunca esqueci da fala da minha amiga Fatima Leal, que certa vez disse: "Meu amigo, o projeto tá dado". Essa frase ecoa em minha mente como um alerta. O projeto de educação que temos hoje não é falho por incompetência, mas por design. Ele foi pensado para manter as estruturas de poder intactas, garantindo que poucos continuem no topo e muitos permaneçam na base.

A implantação das escolas militares é apenas mais um capítulo desse projeto. Em vez de investir em uma educação pública de qualidade, que promova a autonomia, a crítica e a transformação social, opta-se por um modelo que reforça a disciplina e a obediência, mas não necessariamente a formação cidadã. Enquanto isso, a verdadeira crise — a crise de acesso a uma educação libertadora e igualitária — continua sendo ignorada. Darcy Ribeiro tinha razão:  não se trata de uma crise, mas de um projeto. E cabe a nós questionar, resistir e lutar por uma educação que, de fato, liberte e transforme.


Professor Fagundes. Militante da Apeoesp, ativista dos Direitos Humanos

 

1 comentário


naoperes
naoperes
há um dia

E aí vem a mídia hegemônica, burguesa e mantenedora do "status quo" das elites, se deliciar com as notícias de violência contra os professores dentro das escolas, que não tem outro significado que não seja para reforçar esse projeto dos governos. É como se dissessem: "tá vendo? é só com os militares dentro das escolas que a violência vai acabar".

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